quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Vera

"Eu estava brincando com uma amiguinha quando uma outra veio correndo e disse q meu pai estava me chamando. Ao chegar em casa ele me disse que não brincaria mais e não iria mais à escola, dali por diante eu seria uma dona-de-casa."
Parece filme antigo rodado no Oriente Médio né? Pois é, mas isso aconteceu há 23 anos em São Paulo principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul, considerada a 14ª cidade mais globalizada do planeta, segundo o wikipedia.

A Vera casou aos doze anos, foi obrigada a corresponder às expectativas do marido (cuidar da casa e satisfazê-lo sexualmente), teve duas filhas e só se divorciou do mesmo após a morte do pai autoritário quando tinha dezoito anos. Sem experiência ou estudo, deixou as filhas aos cuidados do pai pra "ganhar a vida" e juntar dinheiro suficiente para sustentar a si mesma e às filhas, foi processada pelo ex-marido e pagou pensão alimentícia por mais dois anos antes de conseguir a guarda das meninas. Quando engravidou do terceiro filho, a Vera trabalhava e morava numa casa de família, o pai do bebê faleceu em decorrência do uso de drogas e quando o filho nasceu ela foi demitida e expulsa da casa, sendo obrigada a morar sob uma parada de ônibus durante dois meses, mas ela seguiu em frente e conseguiu criar seu filho sozinha. Aos 15 anos ele é MC e manda muito, esse guri promete....

Hoje, ela tem 35 anos e é uma das pessoas mais doces que já conheci. Mas continua sendo julgada pela sociedade por ser mãe solteira e ainda por cima aos olhos do governo ela e os filhos não são uma família. A história da Vera é perturbadora (pelo menos pra mim), mas não é exceção, mulheres são abusadas e usadas como moeda de troca, discriminadas por classe social, raça ou simplesmente por serem mulheres. A Vera é uma vencedora, mas infelizmente uma exceção, muitas não tem a mesma força pra seguir em frente e acabam protagonizando histórias sem finais felizes.

2 comentários:

  1. Muito importante esse blog pra fazer as pessoas entenderem que podemos mudar mesmo que seja na metade do caminho..Obrigada irmã!

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  2. O caminho é esse mesmo, mana. Não esquece de compartilhar pra empoderar mais minas. #minasderole

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