sexta-feira, 11 de março de 2016

Comofaz?

Quando voltei de viagem e durante a trip também, as pessoas ao perceber o nosso estilo de viagem nos perguntavam como nos mantínhamos durante o role.
Bom, começando pelo princípio, traçamos um plano de como fazer pra comer, onde dormir, como seguir viagem e, basicamente, o plano era o seguinte: experimentar e trocar o máximo possível. Sendo assim, trabalhamos em alguns lugares e também procuramos formas alternativas de levantar grana, além de nos abrirmos mais e recebermos melhor o que o universo nos enviava.

Almoço na Ilha: pão borrachudo com cenoura, tomate, pepino, pimentão....estávamos no paraíso, foda-se.
Ao conversar com as pessoas e contá-las nossa história, muito mais que curiosidade encontramos empatia. Fomos bem recebidas em todos os lugares por onde passamos e só precisamos pagar pra dormir por duas noites em uma viagem de dois meses. Além da expressão de surpresa, as pessoas ficavam tomadas por um sentimento de generosidade e, com isso, fizemos várias trocas bacanas e muitos amigos pelo caminho. Percebi que ao se abrir para o mundo coisas incríveis acontecem com você. Aconteceu de tudo e vivemos várias experiências que nos fazem refletir sobre a vida e sobre como respondemos ao que acontece conosco. Óbvio que nem tudo são flores, vocês podem ver por outros posts que houveram dias difíceis, mas durante todo o tempo tivemos consciência disso.
Acampamos em quintais, fomos recebidas por pessoas que curtiram nossa história, ficamos hospedadas na casa delas, trabalhamos em alguns lugares, vendemos brownie na praia, enfim, foram muitas experiências que EU nunca tinha vivido antes. Com certeza, voltei diferente e com vontade de sair de novo.
além de pão velho rolou ceviche também, nem tudo são flores, mas há flores no caminho

quarta-feira, 2 de março de 2016

Não é normal

Nívea nasceu no interior do RS, a mãe teve depressão pós parto, tios e avós deram o suporte necessário, aos doze anos foi morar com uma tia em Porto Alegre. O exemplo feminino que ela teve em casa foi uma mulher ingênua que, da roça foi trabalhar e morar em uma casa de família numa metrópole nos anos 60. Mulher essa que sempre foi submissa aos homens: primeiro o pai, depois o patrão autoritário que controlava até seus bate-papos no portão e depois o marido. De POA, aos 18 anos, Nívea seguiu os passos da tia e foi trabalhar em uma casa de família no Rio de Janeiro.
Hoje, ela mora em uma comunidade do Rio com o "companheiro". Usei aspas porque a relação dos dois está longe de ser uma relação de companheirismo. Convivendo com o casal, pude perceber que não há amor de nenhuma das partes. Ele não é carinhoso, é autoritário, ela se submete às suas vontades e ele tem uma empregada com quem divide as contas da casa. Pra ele é muito conveniente manter esse relacionamento, já a Nívea precisa entender que não deve nada a ninguém e que não precisa permanecer a mercê desse relacionamento. Pode ser a distância da família, por medo de ficar sozinha ou por acreditar que isso é natural e é assim que acontece que ela não muda a própria história e o pior é que tem muita Nívea por aí que ainda acha normal esse tipo de relacionamento abusivo e que continua vivendo assim, enquanto pra algumas de nós é absurdo. Vamos fazer com que elas saibam que não é normal e que elas não estão sozinhas.
Feliz em receber visitas que  finalmente eram pra ela (não dava pra dizer que não como presunto nem calabresa, passei mal durante dois dias, mas valeu a pena)

terça-feira, 1 de março de 2016

Por que tão pouco?

Quero me redimir aqui por não escrever muito e relatar minha viagem em tempo real. Peço desculpas, mas às vezes é difícil manter o contato ou acessar a web. Passei por locais sem muita estrutura pra isso e também, não posso negar, não foi fácil processar tanta informação. Era tanta coisa acontecendo junto, que foi difícil assimilar informações, separar as histórias e colocá-las aqui. Sair da bolha é construtivo e cansativo. Agora de volta ao aconchego do lar, tenho tempo pra organizar as ideias e expô-las, vou contar ainda várias histórias que aconteceram comigo e com mulheres que conheci no caminho, sempre respeitando a privacidade de todos e usando pseudônimos. Em alguns casos sou mais sucinta, mas estou à disposição se alguém se identificar com a história e surgir alguma ideia pra ajudar ou só pra conversar sobre isso, entre em contato comigo, eu vou adorar interagir com vocês.
Aqui no meu retiro espiritual, refletindo e organizando as ideias
Vai ter também atualização no layout do blog, ele vai ficar mais bonito e mais agradável aos olhos de vocês e também mais com a minha cara. A amiga Ari se disponibilizou a nos ajudar com isso, aproveita e dá uma olhada nos blogs dela também: Vintage Queen que é sobre moda pin up e o lado emo (como ela mesma diz) Glitter is my Prozac
Beijos de luz, até mais.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Que caminhão?

Na minha breve vida de caroneira nunca passei mais de 15 minutos na beira da estrada e sempre que questionava o motorista (todos homens) se eles costumavam dar carona, respondiam a mesma coisa: "Parei porque vocês são gurias". Ok é mais fácil conseguir, mas uma vez dentro do veículo, cria-se uma situação onde eu tenho que me preocupar em me preservar e não me expor (nem ideias, nem detalhes da viagem), não ser muito simpática pra que ele não entenda errado e ache que estou dando abertura pra que ele me assedie e direcionar a conversa de maneira que sexo nem passe pela cabeça dele. O fato de ele usar aliança ou ter uns 150 anos a mais que eu não é relevante, ele acha que por me "prestar um favor" eu lhe devo um agradinho também.


Ainda assim, me sinto constrangida em recusar várias coisas pra passar o mínimo de tempo possível na presença de uma pessoa que me deixa desconfortável na maneira como me olha e invento uma história qualquer pra recusar educadamente a proposta dele de dormirmos os três na boleia do caminhão, ao invés de simplesmente rir da cara dele e fazer um comentário tão infame quanto a proposta. Mesmo assim o cidadão age como se tivesse sido lesado e nos deixa no meio do nada porque saiu perdendo, afinal, nós ganhamos uma carona e ele não ganhou nada.


Falando assim parece absurdo né? E é, por sermos mulheres, passamos por essas situações desconfortáveis e nojentas, de homens nos julgando  por viajarmos sozinhas nos deparamos com homens que se aproveitam de "situações de vulnerabilidade". O fato de eu estar viajando sem a companhia de um homem não faz de mim vulnerável. Se um homem está sozinho na rodoviária ele não é observado fixamente por algum oportunista que parece que te come com os olhos e nem se sente desconfortável em perceber que você também o observa, mas sendo mulher eu tenho que aprender a lidar com isso e usar das minhas artimanhas pra fazer com que isso pare. Não, não levo desaforo pra casa, ele não tem o direito de fazer o que quiser porque é fisicamente mais forte, eu não fico me aproveitando do fato de ser mais inteligente pra assedia-lo, oras.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Vera

"Eu estava brincando com uma amiguinha quando uma outra veio correndo e disse q meu pai estava me chamando. Ao chegar em casa ele me disse que não brincaria mais e não iria mais à escola, dali por diante eu seria uma dona-de-casa."
Parece filme antigo rodado no Oriente Médio né? Pois é, mas isso aconteceu há 23 anos em São Paulo principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul, considerada a 14ª cidade mais globalizada do planeta, segundo o wikipedia.

A Vera casou aos doze anos, foi obrigada a corresponder às expectativas do marido (cuidar da casa e satisfazê-lo sexualmente), teve duas filhas e só se divorciou do mesmo após a morte do pai autoritário quando tinha dezoito anos. Sem experiência ou estudo, deixou as filhas aos cuidados do pai pra "ganhar a vida" e juntar dinheiro suficiente para sustentar a si mesma e às filhas, foi processada pelo ex-marido e pagou pensão alimentícia por mais dois anos antes de conseguir a guarda das meninas. Quando engravidou do terceiro filho, a Vera trabalhava e morava numa casa de família, o pai do bebê faleceu em decorrência do uso de drogas e quando o filho nasceu ela foi demitida e expulsa da casa, sendo obrigada a morar sob uma parada de ônibus durante dois meses, mas ela seguiu em frente e conseguiu criar seu filho sozinha. Aos 15 anos ele é MC e manda muito, esse guri promete....

Hoje, ela tem 35 anos e é uma das pessoas mais doces que já conheci. Mas continua sendo julgada pela sociedade por ser mãe solteira e ainda por cima aos olhos do governo ela e os filhos não são uma família. A história da Vera é perturbadora (pelo menos pra mim), mas não é exceção, mulheres são abusadas e usadas como moeda de troca, discriminadas por classe social, raça ou simplesmente por serem mulheres. A Vera é uma vencedora, mas infelizmente uma exceção, muitas não tem a mesma força pra seguir em frente e acabam protagonizando histórias sem finais felizes.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Tardo, mas não falho

Então galera, to de volta pra compartilhar com vocês um pouco das experiências q sucederam, falar das pessoas maravilhosas que encontramos pelo caminho como a Bete e o Dirceu que nos receberam muito bem e nos mostraram o role de Curitiba,

a foto ta meio desfocada, mas a Bete achou até bom, coloquei mesmo assim

 a Raquel, nativa lá da Ilha do Mel e o Luciano, avô dela que nos cedeu espaço pra acampar e nos deu um show de vitalidade, olha ele aí preparando o café da manhã:


Mas começamos a trip lá no Morro dos Conventos, onde conhecemos dois guris gente boníssima que estão viajando a pé, saíram de Novo Hamburgo com sua amiga canina Ganja, super gente fina também. Mas voltando ao que interessa, o Morro tem vários lugares pra acampar na faixa, gramados bem verdinhos e até energia elétrica pra carregar o celular ou quem sabe cozinhar uns ovos com o rabo quente. As pessoas de lá são muito agradáveis e receptivas, se vc pedir informação ou um café, rola, além de ser um lugar bonitão, passando por Araranguá, dá um pulo lá.

Não passamos muito tempo em Santa Catarina porque era território já explorado, fizemos escala na Ilha do Mel e eita lugarzinho difícil de sair hein... A natureza e as figuras características da ilha são demais, mas se for passar pela ilha vá bem guarnecido de alimentos, a vida vegetariana lá é muito difícil, fora isso, vc vê estrelas cadentes, plânctons, os cães mais felizes do planeta e o papagaio selvagem mais sociável q eu já vi. E eu juro que vi um disco voador, digo e provo:


E pra quem tá se perguntando pq eu falo no plural, apresento a super Lucy Dramaqueen em combate ao machismo, minha parceira de trip, doce de menina. Mimosa, segundo ela, eu concordo. Mas né, tudo tem limite, não mexe com essa mina.